Muffin na Pop Plus

Muffin na Pop Plus

20 de setembro de 2016

Neste final de semana, foi realizado na avenida Paulista o Pop Plus, destinado à moda Plus Size. Expositores de 11 cidades brasileiras, desfiles, aulas de yoga e bate-papos com personalidades do mundo Plus Size marcaram a 14ª edição do evento.

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O Muffin.Dicas esteve no primeiro dia e te conta o que teve!

– Às 14h do sábado, rolou um bate-papo sobre “O que é ser plus size?”. Com mediação da Rafa Coleho (site Das Plus), a mesa contou com a doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo, Patrícia Assuf Nechar e com a Glenda Cardoso, do blog Curvilíneos. Essa conversa foi MUITO interessante porque entrou naquela questão da indústria da moda considerar o Plus Size como qualquer tamanho que foge do convencional. Muitas vezes o 40/42 já é considerado Plus Size e, querendo ou não, as modelos Plus Size também seguem um padrão de corpo que pode desviar do real. Esse bate-papo foi tão proveitoso que terá um post destinado a ele mais adiante.

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– Às 16h, a publicitária Alcione Ribeiro mediou uma conversa sobre o mercado de trabalho. Os convidados foram a Vanessa Raya, que é advogada e dona do blog Sapatinho de Cristal, e o Bruno Barreto, relações públicas da BASF. Eu fui achando que seria uma conversa sobre as áreas que as mulheres Plus Size podem sim atuar, meio que derrubando esse estigma de “gorda tem que se esconder”. Porém, para a minha surpresa, a conversa foi sobre os preconceitos (ou não) dentro do mercado em relação às pessoas gordas. O Bruno Barreto contou a história de quando foi contratado pela BASF. Segundo ele, depois do exame médico, ele esperou TRÊS semanas para ser contatado de novo. No primeiro dia, a chefe chamou ele para conversar e explicou a razão da demora:

“Olha Bruno, eu queria te pedir desculpas por essa demora. Durante o exame médico o médico do trabalho te reprovou porque ele falou que você estava obeso e não recomendava a sua contratação. E falou assim: já pensou se ele quer fazer uma cirurgia do estômago?! Quanto tempo ele vai ficar afastado?! E se ele tiver problemas?! Se ele for viajar pela empresa, vai ter que ser só de classe executiva porque ele não cabe na classe econômica.”

A chefe acionou a diretora, que acionou o vice-presidente em Recursos Humanos e o Bruno foi contratado pelas competências e pelo profissional que ele é! Porém, o médico não parou por aí.

“Ele escreveu uma recomendação que eu não deveria visitar nenhuma unidade fabril porque em caso de explosão, de qualquer derramamento químico, eu poderia ficar para trás, eu não teria condições de acompanhar a saída de emergência.”

No final, deu tudo certo. A companhia que o Bruno trabalha desenvolveu uma gerência de diversidade, onde eles tratam de temas das minorias. “Não só a questão do gordo e da adaptação das necessidades das pessoas, mas também a questão de negros, LGBT, mulheres em cargos de liderança e como é que isso tudo é tratado.”

A Vanessa Raya disse que, se sofreu o preconceito por ser gorda, não percebeu. No entanto, ela lembrou que muita coisa ainda é velada. Como ser gorda ainda é motivo de desconforto para MUITA gente e, de fato, existe um tom pejorativo ao redor da gordura, as pessoas evitam qualquer atitude que demonstre essa estranheza.

“Uma pesquisa da Universidade de Michigan fala que dentro desse quadro quem sofre muito mais são as mulheres. Se tiverem que optar entre uma mulher gorda e um homem gordo, eles acabam optando pelo homem.”

Ela mencionou uma pesquisa da Catho que dizia que 68% dos presidentes e diretores cadastrados na plataforma não querem pessoas fora do peso em cargos de presidência e diretoria. Além disso, 10% não quer que as pessoas acima do peso ocupem cargo de gerência ou supervisão.

Depois desses relatos, a Alcione disse algo que é verdade: é desnecessário uma empresa colocar na descrição da vaga que necessita de pessoas com “boa aparência”. O que é a boa aparência? Hoje em dia, ela é totalmente atrelada à magreza, mas isso não depende de cada um de nós? A boa aparência para mim não é a mesma para o resto do mundo!

Os três concordaram que, atualmente, as empresas estão se tocando mais do que pode ou não escrever na descrição de uma vaga. Acima de tudo, elas estão se desligando da questão da aparência e focando nas aptidões – que é o que realmente importa. Claro, ainda não são todas e, sim, existem áreas que realmente não estão prontas. Durante o bate-papo, por exemplo, foi pontuado que talvez nunca exista vagas para aeromoças gordas. O Bruno disse uma frase que eu acho importante de ressaltar e não só para quem é gorda, mas para quem é mulher. Querendo ou não, temos as nossas habilidades e capacidades questionadas diariamente pelo simples fato de ser mulher. “Nós temos que pensar realmente em ser agente de mudança. Dentro das empresas que estamos, provar e se provar cada dia que nós somos sim bons profissionais. Que nós entregamos e que não é uma condição física que vai impedir a gente de ser reconhecido por isso”. Enfim, já dizia Bob Dylan “The Times They Are a-Changin'”.

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– Às 19h tivemos um bate-papo sobre a imagem gorda na cultura pop. Mediado pela Marília Almeida e com presença de Thiago Borbolla (do portal Judão) e da maravilhosa blogueira de moda Plus Size Juliana Romano (blog Entre Topetes e Vinis). Como é representado o gordo e a gorda em filmes, músicas, livros… enfim, na cultura pop?

É o gordo bobo e a gorda virgem, na maior parte das vezes. Os exemplos que foram muito usados: os papeis de Jack Black, Rebel Wilson e Melissa McCarthy. O gordo e a gorda são retratados como desengonçados, desleixados, bobos. Eles são usados como o alívio cômico da trama. Às vezes funciona (quem não ama a Fat Amy que jogue a primeira pedra), mas não é bem por aí…

A Ju Romano falou sobre o clipe (maravilhoso) de Toothbrush, música da banda DNCE, no qual a personagem principal é interpretada pela modelo Plus Size norte-americana Ashley Graham. E, “pasmem”, ela faz o papel de…. mulher. Da mulher sexy, segura e namorada do Joe Jonas. “Esse, para mim, é o cenário ideal. A gorda estar num cenário onde ela não e a gorda, ela é uma atriz como qualquer outra”, a Ju Romano explicou.

O Thiago reconheceu que a própria Melissa McCarthy está tentando mudar o perfil dos filmes que ela participa. Até porque, como a Ju disse durante a conversa, as atrizes tem que mostrar que não servem apenas para o papel da “gorda engraçadona”. É a velha questão das pessoas se reconhecerem na tela, na página da revista, nas imagens da internet. De se reconhecer e se amparar nas figuras que circulam na mídia.

 

“A cultura pop no geral precisa ser representada em todos os níveis, não só no que a gente vê. É importante a se reconhecer. Tem até uma personagem de um quadrinho independente que é uma gorda de barriga de fora, e fizeram cosplay dela. É isso que é representatividade: é as pessoas poderem se reconhecer, poderem se ver e se colocar naquele ponto” (Thiago).

O Thiago lembrou que MUITAS plataformas online de revistas (especialmente as de fofoca) vivem fazendo matéria do tipo “fulana foi a praia e exibiu quilinhos extras” ou “ciclana deixa celulites a mostra ao sair do carro”. E, no final, essa vai ser uma das matérias que entrará nas 5 mais clicadas. Segundo ele, as pessoas entram por maldade. Para ver que as estrelas não são tão perfeitas quanto aparentam. A Ju rebateu que, apesar de existir uma parcela (que até pode ser a maior parcela), existem as pessoas – como ela – que clicam neste tipo de matéria para pensar “Meu deus! Ela é tão maravilhosa e tem celulite que nem eu! Vamos para a praia, miga!”. Os dois concordaram que tudo depende do tom que for usado na construção da matéria.

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Depois da palestra, eu conversei alguns minutinhos com a Ju sobre o NYFW e outras cositas más. Queria trazer uma coisa que ela falou e acho que muitas pessoas devem se sentir da mesma forma. A Ju desabafou que foi uma adolescente muito mal representada pela mídia. A  representatividade e a imagem da mulher REAL na mídia talvez tivesse impedido que ela tivesse diversos questionamentos que seguem a vida dela desde a adolescência. “Porque para mim, a mulher bem-sucedida era a mulher magra e todo o resto era o resto. Será que se eu tivesse crescido com a imagem da mulher poder ser vários corpos, alguns questionamentos que a gente se faz sequer seriam questionamentos?”.

O Pop Plus tem várias edições por ano. Além de palestras como essas que eu descrevi no post, tem muita roupa linda para comprar, desfiles de marcas Plus Size, DJ, aula de Yoga, poesia, dança e muito, MUITO empoderamento. O interessante de ir ao evento é que a atmosfera te empodera. Está nas araras, nas pessoas, e em cartazes maravilhosos espalhados pelo salão. A próxima edição será realizada ainda em dezembro de 2016.

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*Este post foi produzido por Nanny Cox

Beijos,
@BrunaMuffin
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